Angelina Gonçalves
O Centro Acadêmico de História foi batizado com o nome de Angelina Gonçalves em homenagem à emblemática figura da mulher rio-grandina, mártir do movimento operário da cidade. Sua história tem início. No dia 1° de maio de 1950, na cidade de Rio Grande, foi realizado um churrasco de comemoração ao dia do trabalhador, no local do então Parque Rio-grandense. A atividade foi convocada por grupos ligados ao movimento operário, principalmente os comunistas. Nela ocorreu além do churrasco, bancas de venda de comidas e refrigerantes, apresentação de bandas de música e discursos de oradores. Ao final da atividade, alguns oradores chamaram os presentes a sair em caminhada a fim de fazer uma última manifestação em frente à sede da Sociedade União Operária(SUO), que estava fechada por ordem do Ministro da Justiça desde maio de 1949.
A marcha saiu pela cidade, com uma banda de música e o pavilhão nacional à frente, com o grito de palavras de ordem e apresentação de cartazes e faixas, pedindo a reabertura da SUO e comemorando o dia do trabalhador. A quantia de participantes do churrasco e da marcha fornecidos pela imprensa e participantes varia: quanto ao churrasco, de mil a duas mil pessoas, a passeata de 400 a mil pessoas.
Nas imediações do campo do Esporte Clube General Osório a manifestação foi interceptada pelo delegado Evaldo Miranda do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que exigiu a sua dispersão. Junto com Miranda estavam alguns policiais e soldados da Brigada Militar, que se encontravam dentro do estádio do Esporte Clube Rio Grande, próximo ao local do confronto, que estava lotado devido a uma partida de futebol comemorativa contra o time carioca Vasco da Gama.
A partir dali começou uma briga com tiroteio, em que morreram três manifestantes: o pedreiro Euclides Pinto, o portuário Honório Alves de Couto e a tecelã Angelina Gonçalves, 30 anos, ao retomar a bandeira do Brasil que a polícia tirara dos manifestantes. Também foi morto o ferroviário Osvaldino Correa, que havia saído do estádio de futebol em apoio aos manifestantes. No confronto também morreu o soldado da Brigada Militar Francisco Reis.
Várias pessoas ficaram feridas, tanto policiais quanto manifestantes, porém da parte dos manifestantes, muitos deles optaram por tratar seus ferimentos em casa com medo de que, ao irem buscar ajuda hospitalar, ficassem presos por envolvimento no conflito, o que dificulta qualquer dado mais preciso sobre este número. Um dos feridos foi o vereador comunista Antonio Rechia, que ficou paralítico.
Na noite do dia 1° de maio, após o confronto, um ambiente de medo e insegurança parece ter sido construído na cidade. Logo após o enfrentamento, todos os efetivos da cidade, do Exército e Marinha foram chamados aos quartéis para plantão, colocando a cidade em estado de alerta. Os dois hospitais de Rio Grande, em que se encontravam vários manifestantes feridos, ficaram sobre forte cerco e vigilância do Exército, que foi chamado devido ao temor de um ataque para resgatar os manifestantes. Também foi proibida a entrada de pessoas para visitarem os feridos.
Angelina Gonçalves
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A imprensa, a partir do dia seguinte, atacou a manifestação e assumiu a versão da polícia, defendendo-a de maneira intransigente e em nenhum momento abrindo espaço para a veiculação de opiniões divergentes. Pode-se notar a argumentação construída no trecho de reportagem citado a seguir: "Com grande acompanhamento, realizou-se ontem as 16 horas, o sepultamento do soldado Francisco Reis, a primeira vítima da sanha comunista que caiu bravamente na defesa dos interesses da sociedade. O corpo do malogrado soldado, foi conduzido primeiramente até a Matriz de São Pedro, onde foi encomendado, e depois foi dado a sepultura. Compareceram ao sepultamento, as principais autoridades e grande quantidade de povo, todos irmanados no mesmo sentimento de profunda dor, pelo gondo com sangue rubro das suas ambições contra os interesses da nossa plpe que os comunistas desferiram na sociedade rio grandense, manchaátria e da democracia." (Jornal O Tempo. Rio Grande, 03/05/1950).
Este episódio intensificou, na cidade, um momento de propaganda anticomunista, com uma campanha de parte da imprensa comercial e das autoridades em geral, embora os comunistas não tenham sido os únicos participantes das manifestações. Além disso, um período de perseguição e repressões violentas ao movimento operário foi aberto, diferente do que ocorrera em 1949, apesar das prisões realizadas. A justificativa era o combate aos “perigosos vermelhos”, que foi usada para tentar freiar o movimento destes e de outros grupos de operários que se organizavam, porém muitos sem quaisquer ligações com o comunismo.
As conseqüências do conflito recaíram sobre todo movimento operário e não apenas sobre os comunistas, pois a partir daquele momento, qualquer manifestação operária foi vista pelas autoridades, policiais principalmente, como uma tentativa de distúrbio da ordem e digna de ser tratada com brutalidade e repressão.
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